A Associação Smart Waste Portugal reuniu alguns players do setor energético, numa conferência que se realizou a 26 de setembro no auditório da EDP.

A importância da economia circular, a situação das matérias-primas e a crise energética foram os temas a debate para mostrar como o setor dos resíduos pode ter um papel diferenciador na economia.

Aires PereiraAires Pereira (Foto: Paulo Alexandre Coelho)

A falar pela EDP, que pretende obter e fornecer energia “100% verde” até 2030, Miguel Stillwell de Andrade, CEO, disse: «Temos de ter objetivos ambiciosos e procurar forma de lá chegar». Stillwell de Andrade expressou algumas das preocupações do grupo, nomeadamente com questões relacionadas com a reciclagem de pás e turbinas utilizadas na energia eólica, assim como as baterias dos painéis solares, sublinhando que, apesar de Portugal ser um dos países que se destaca em termos de produção energética, ainda há muito a fazer na transição para uma economia circular.

Portugal pretende alcançar uma redução para 10% da deposição em aterro face à produção de resíduos, até 2035, e quer chegar a 2026 com 80% da eletricidade proveniente de fontes renováveis. A neutralidade carbónica é desejada para 2045, embora a meta inicial esteja traçada em 2050. Aires Pereira, Presidente da Direção da Associação Smart Waste Portugal, diz que a associação trabalha para promover sinergias e colaboração entre os 151 associados, atores importantes na jornada rumo à economia circular. Aires Pereira, conclui: “A gestão adequada de resíduos é essencial para minimizar o impacto ambiental da eliminação destes, reduzindo a deposição em aterro e evitando a emissão de gases nocivos para a atmosfera. As tecnologias de transformação de resíduos em energia podem reduzir significativamente o volume de resíduos que acaba depositado em aterros, mitigando assim potenciais riscos ambientais e de saúde”.

Conferência ASWP Energia e Economia CircularHugo Polido Pires (Foto: Paulo Alexandre Coelho)

Hugo Polido Pires, Secretário de Estado do Ambiente, referiu «o financiamento via Portugal 2030, de 500 milhões de euros para a área dos resíduos e economia circular, mas também pela devolução da chamada Taxa de Gestão de Resíduos (TGR) aos municípios, para que este dinheiro seja reinvestido numa rede para recolha seletiva e tratamento na origem de biorresíduos, resíduos esses que ao dia de hoje, representam cerca de 40% dos resíduos urbanos.» Anunciou também que o Governo está a preparar uma Campanha de Sensibilização Nacional para incentivar a separação seletiva dos biorresíduos e garantir uma reciclagem mais eficaz.  

Materias Criticas

Maria Isabel Soares, Professora Emérita da Universidade do Porto, falou sobre o impacto das tecnologias renováveis no mercado dos recursos minerais, abordando as pressões do abastecimento e a volatilidade dos preços. Maria Isabel Soares apresentou os materiais que iriam tornar-se «o novo gás e o novo petróleo», referindo que a evolução tecnológica é aceleradíssima que é necessário ter em conta a cadeia de valor dos metais, considerando o tempo de abertura de minas, a aceitabilidade dos projetos, os impactos ambientais e as necessidades de financiamento dos mesmos.

vasconcelosJorge Vasconcelos

Jorge Vasconcelos, da Newes – New Energy Solutions, abordou a necessidade de descarbonizar o setor da eletricidade, de forma a acelerar a descarbonização de todos os outros setores da economia. Eletrificar a mobilidade e o aquecimento é essencial, mas o aumento da procura leva a uma aceleração dramática da necessidade da descarbonização, que deveria acontecer a um ritmo 5 vezes superior ao atual para se atingirem as metas. Jorge Vasconcelos diz: «devemos olhar para a eletricidade não como um produto, mas como uma plataforma para a transição energética eficiente».

Na conferência, marcaram presença várias empresas - como a Secil, a Vista Alegre, o Grupo Brisa, a Vidrala, a EDP Geração, a PRIO Bio, o Grupo Greenvolt, a LIPOR, a Floene e a Veolia Portugal - para discutir e repensar o que falta para acelerar a transição energética e de que forma é que o setor dos resíduos, isto é, urbanos e industriais, pode contribuir para uma maior produção de energia.

Foram abordados temas como o Biometano, o Hidrogénio Verde, a Biomassa e os Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR), os quais desempenham um papel vital na promoção de uma energia mais sustentável e limpa, aproveitando recursos renováveis ou resíduos, contribuindo assim para a mitigação das alterações climáticas e a redução da dependência de combustíveis fósseis.

Painel

Em 2021, 56% dos Resíduos Urbanos produzidos foram depositados em aterro, 19% seguiram para valorização energética, 14% para reciclagem, 7% para compostagem / digestão anaeróbia e 2% para outras valorizações. Apesar da diminuição verificada face a anos anteriores, a deposição em aterro continua a ser o destino preferencial dos Resíduos Urbanos. Assim sendo, inverter esta tendência, direcionando resíduos para valorização energética, traduzir-se-á numa redução da percentagem de resíduos em aterro, contribuindo assim para o alcance das metas.

Portugal tem ainda um caminho a percorrer para a conversão de Resíduos Sólidos Urbanos, Resíduos Agrícolas e Orgânicos, Resíduos Industriais, entre outros. Para isso, é importante promover a educação pública e a consciencialização sobre a importância da gestão adequada de resíduos.

A cooperação entre as diversas cadeias de valor, a inovação tecnológica, o financiamento, a capacitação e o envolvimento da comunidade são cruciais na transição, dizem os diversos intervenientes na conferência da Smart Waste.