A consultora Gartner antecipa uma transformação profunda nas estratégias de packaging sustentável. Até 2028, 75% das organizações com metas voluntárias nesta área deverão abandoná-las em favor da adoção de diretrizes legislativas, numa tentativa de responder às crescentes exigências regulatórias e evitar sanções associadas à responsabilidade alargada do produtor (EPR).

O alerta surge num momento em que 90% dos compromissos públicos de sustentabilidade em embalagens continuarão por cumprir até ao final de 2025, sobretudo devido à persistência no uso de plásticos e embalagens descartáveis. Para o Senior Director Analyst da Gartner, John Blake, esta realidade exige uma mudança de foco nos departamentos de supply chain: “Com as regras a evoluírem rapidamente, os Chief Supply Chain Officers devem preparar os responsáveis de P&L para um aumento significativo de custos relacionados com conformidade, redesenho e materiais alternativos.”

A adoção de legislações de responsabilidade alargada do produtor está a expandir-se globalmente, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, impondo às empresas a obrigação de financiar e gerir a recolha e o destino final das embalagens que colocam no mercado. As regras implicam o registo junto de organizações de responsabilidade do produtor (PROs) e o envio de dados detalhados sobre os materiais utilizados, volumes e reciclabilidade.

Além das taxas, as empresas enfrentam riscos adicionais como multas, perda de acesso a mercados e pressão pública, caso não cumpram os requisitos. Muitas, segundo a Gartner, ainda não dispõem das ferramentas de gestão de dados e recursos internos necessários à conformidade.

A Gartner sublinha que a legislação se tornou o principal motor da inovação no design de embalagem, substituindo os tradicionais critérios de custo e atratividade visual. Esta mudança de paradigma já está a ter efeitos concretos, como a necessidade de adaptar cadeias logísticas a modelos reutilizáveis, com sistemas de recolha e redistribuição, ou a aceleração dos ciclos de redesign, que podem implicar processos de desenvolvimento com duração de dois anos ou mais.

Além disso, as empresas são agora pressionadas a integrar as exigências legais nos processos de investigação, desenvolvimento e planeamento de investimento, enfrentando ainda custos acrescidos a longo prazo caso adiem a adaptação às novas regras.

Para a consultora, as empresas que adotarem uma postura proativa poderão mitigar riscos e conquistar vantagem competitiva. Entre as estratégias recomendadas estão a formação de equipas multifuncionais, que envolvem áreas como marketing, I&D, compliance, IT e produção, para assegurar uma compreensão alargada dos impactos da legislação, bem como o envolvimento de toda a cadeia de fornecimento na resolução de desafios relacionados com materiais e logística. A integração dos requisitos legais nas estratégias de packaging deve tornar-se central, com foco na criação de embalagens alinhadas com os sistemas de reciclagem locais e os princípios da economia circular.