De Santo Tirso para o mundo, a Finieco produz soluções de embalagem comercial e alimentar em papel, desde 1998. Atualmente é um dos principais produtores europeus e, além do mercado português, chega a Espanha, Inglaterra, França, Alemanha, Holanda, Suíça e América do Norte.
(Artigo publicado na Revista Packaging #36 - Setembro / Dezembro 2020)
Nas suas instalações com 10 000m2, a Finieco dispõe 16 linhas de produção de sacos de papel em modo automático, cinco impressoras flexográficas e impressão offset. A empresa é gerida por uma equipa de cinco pessoas Paulino Ribeiro, José Ribeiro, Paulo Rodrigues, António Rodrigues e David Portugal. A empresa está instalada em Santo Tirso e conta com 210 colaboradores.
A Finieco produz diariamente mais de três milhões de embalagens, contribuindo para uma economia circular e sustentável. No conturbado ano de 2020, investiu, contratou novos colaboradores e até conseguiu algum crescimento setorial. Paulino Pinto Ribeiro, COO da empresa, explica a filosofia adotada pela empresa.
“A Finieco tem cerca de 22 anos, nasceu em 98 e foi a primeira empresa em Portugal a produzir sacos de papel num processo 100% automatizado, numa altura em que o País importava 100% das suas necessidades de este tipo de embalagem”, explica Paulino Pinto Ribeiro, CEO da Finieco. Foi no final do primeiro ano de atividade que a empresa se lançou no processo de internacionalização. “Desde então o crescimento foi constante, com um reinvestimento de tudo o que a empresa libertava em capacidade produtiva, em recursos humanos e instalações”, diz.
Já se passaram 22 anos e a operação navega a toda a velocidade, aproveitando o bom momento em que as soluções de embalagem em materiais sustentáveis, como o papel, são cada vez mais procuradas. “A empresa exporta mais de 85% do que produz, tem presença direta em 49 países e tem uma exposição transversal aos mercados, ou seja, tem clientes no setor secundário, no setor terciário, no setor terciário superior ou quaternário, designadamente telecomunicações, tecnologias de informação e educação. A nossa meta diária de produção é equivalente a cerca de três milhões de embalagens”, conta Pinto Ribeiro.
O que faz a Finieco?
O principal produto é o saco de papel, personalizado, e com diversas opções, formatos, tipos de acabamento e impressão. Com asas de papel torcido, troqueladas, planas, com pala de fecho e papel siliconado, as opções são muitas. Os acabamentos podem ser manuais ou até haver a aplicação de verniz de proteção, verniz UV, laminação, hot stamping e gofragem, entre outras possibilidades técnicas e criativas. A Finieco produz também saquetas para o setor alimentar, sacos sem asas, envelopes com pala, fole, fundo plano e sistema de fecho com fita de silicone, assim como papel de embrulho.
“Nós temos um produto que não tem muito valor percebido. O nosso cliente só se lembra que não tem sacos quando acaba o stock e, portanto, nós temos de trabalhar para adicionar valor a esse produto e demonstrar ao nosso cliente qual é o valor intrínseco da embalagem”, explica o CEO da Finieco. “Isso passa por anteciparmos as necessidades dos clientes, sejam elas para nova estação ou para a nova campanha de marketing, e responder muito rapidamente quando o comprador se esqueceu de fazer as encomendas. Resolvemos o problema rapidamente e isso já nos ajudou a angariar novos clientes”, refere.
Valor acrescentado e controlo financeiro
Estando posicionada entre os fornecedores de matéria-prima, como as papeleiras, e os clientes da grande distribuição e as marcas, a Finieco percebeu a importância de comunicar bem e dar resposta às necessidades do mercado. Criou produtos especializados, que adicionam valor ao negócio dos clientes, e que cumprem com rigorosas exigências em termos ambientais e essa estratégia foi essencial.
A Finieco foi a primeira indústria do género, na Península Ibérica, a apostar em impressão com tintas de base aquosa, por exemplo. “Ao mesmo tempo tentamos criar parcerias de longo prazo com fornecedores e com clientes, sob o princípio know your costumer, ou seja, conhecer bem o cliente”, comenta o COO da Finieco. Além de desenvolver um produto com valor acrescentado e credenciais ambientais, a Finieco trabalha sempre com a sustentabilidade financeira em mente.
“A nossa estratégia foi, desde o início, formularmos o preço não de acordo com o que a concorrência pratica - embora seja sempre uma referência como é evidente -, mas de acordo com o custo de produção. Isto é fundamental para a sustentabilidade a longo prazo”, explica Paulino Pinto Ribeiro.
“Tentamos, sempre que possível, ter um endividamento muito baixo ou próximo do zero, o que nos tem permitido passar tempos conturbados com alguma segurança. Por outro lado, temos uma política de pagamento rigoroso, o que nos permite fidelizar os fornecedores e conseguir algumas vantagens financeiras, em que negociamos o pronto pagamento contra desconto. Além disso, desenvolvemos também uma política de incentivar os clientes a pagar a tempo e horas”, conta o executivo.
Crescer em tempo de pandemia
O ano de 2020 chegou com um vírus desconhecido, avassalador na saúde e na economia. Porém, algumas empresas conseguiram navegar nos mares mais conturbados e manter o curso no desenvolvimento da atividade. A Finieco é um desses exemplos. Em ano de pandemia investiu 5 milhões de euros e conseguiu contratar mais 40 pessoas, atingindo um número expressivo de quase 210 colaboradores nas suas fileiras. Qual é o segredo?
“Estamos numa era de relações sociais e económicas globalizadas, inter-relacionamo-nos de uma maneira transversal e ultrapassamos todas as barreiras que politicamente nos queiram impor”, diz Paulino Pinto Ribeiro. A crise pandémica, que se acredita ter iniciado em Wuhan, numa província de Hubei, na China, teve os primeiros casos reportados a 31 de dezembro de 2019. A 30 de Janeiro, a OMS decretou um surto pandémico com emergência de saúde pública de âmbito internacional. Nove meses depois, o vírus já havia atingido cerca de 50 milhões de pessoas em 189 dos 193 países existentes. A 2 de Março é reportado o primeiro caso em Portugal, e a 9 de março são anunciadas as primeiras medidas de contenção.
“Em janeiro estávamos a crescer 25% em relação ao mês homologo do ano 2019. Em fevereiro e março, o nosso turnover diminuiu cerca de 15%. Em abril há uma queda drástica de 75%. Em maio suavizou-se a diminuição em relação ao mês homologo de 2019, ou seja, diminuímos o turnover em 25%, em junho apenas 12%, em julho conseguimos crescer 12%. Em agosto e setembro, o crescimento situou-se entre 5 e 10% e, no mês de outubro, surge novamente em baixa, com a segunda vaga, mas ainda marginalmente acima do mês de outubro de 2019”, diz o CEO da Finieco.
Fevereiro e março foram meses de alguma letargia, em que tentaram compreender a gravidade da situação, diz o empresário, porém, internamente começaram a reagir pragmaticamente no âmbito de preservar a saúde dos recursos humanos, adotando as medidas aconselhadas e optando pela desinfeção generalizada das instalações, e pela implementação do teletrabalho, sempre que possível ou desejado pelo colaborador. Aproveitaram ainda para fazer ações de formação dos recursos humanos.
“As primeiras reações à crise por parte das autoridades permitiram-nos entender quais os setores de atividade em que se iria registar um aumento da procura dos nossos produtos. Identificamos a indústria farmacêutica, os laboratórios e as grandes cadeias de distribuição europeias e norte-americanas, a distribuição alimentar - em hipermercados, no takeaway e no delivery - e o segmento das vendas online, onde fizemos o reforço da nossa capacidade produtiva para os produtos “go and return”, que são embalagens que são enviadas ao cliente e que permitem que o cliente devolva os produtos ao fornecedor, se necessário. Direcionámos os recursos para esses setores, conquistando novos clientes designadamente em mercados externos, como por exemplo no mercado alemão, com o Lidl, que veio buscar capacidade produtiva a Portugal, e com a rede de distribuição norte-americana CBS, muito ligada ao setor farmacêutico”, conta Paulino Pinto Ribeiro.
As lições que ficam
A internacionalização, o facto de ter um produto transversal a diversos setores da economia, o conhecimento dos mercados por parte da equipa e o conhecimento do negócio dos clientes foram os grandes trunfos da Finieco. Paulino Pinto Ribeiro diz ser necessário globalizar os negócios, descobrir outras geografias onde a indústria tem margem para crescer, desenvolver as capacidades de handling e de logística e criar condições competitivas para chegar mais longe. “Nós ficamos, às vezes, estupefactos, pois o nosso produto, que são sacos de papel cuja unidade custa cêntimos, pode ser competitivo na Austrália, na América do Norte ou na Rússia... é fundamental tomarmos consciência disto!”, sublinha o empresário. Já diz o ditado: “O que não te mata torna-te mais forte”, relembra o CEO da Finieco, que espera que as empresas se fortaleçam, encontrem novos mercados e tracem novos rumos.
“A quem não escolhe o destino qualquer vento pode ser adverso”, diz a citar Sócrates ao mesmo tempo que afirma “às vezes é necessário virarmos a vela, mudarmos o modo de navegar e, se for preciso, pegar nos remos e remar. Temos de ser resilientes, chegar ao objetivo”.
A Finieco vai continuar a expandir-se e programou, para 2021, investimentos na ordem dos 9 milhões de euros, com reforço da capacidade produtiva, da capacidade logística e da formação dos recursos humanos. A sorte é também um fator determinante do sucesso dos negócios, mas não nos podemos esquecer que a sorte é fruto de trabalho, dedicação e resiliência. E, para ter sorte “é fundamental que nos estruturemos, para que no futuro as coisas estejam melhores”, conclui Paulino Pinto Ribeiro.