O Rock in Rio, um dos maiores festivais de música do mundo, está a comemorar 20 anos em Portugal, com a edição do Rock in Rio Lisboa.
O primeiro fim-de-semana, 15 e 16 de maio, fechou as portas com um saldo de 160 mil visitantes no espaço. Com milhares de visitantes, poderá o festival ser, de facto, sustentável?
A sustentabilidade tem diversas dimensões e, por isso, no âmbito deste artigo iremos olhar, maioritariamente, para o impacto ambiental e para algumas das escolhas que são necessárias para a realização de um evento de massas. Antes do início do Rock in Rio, falámos com Dora Palma, responsável da área de sustentabilidade, e com Luís Soares, Head of Marketing, para perceber a que se propunha a organização e, no primeiro fim-de-semana, visitámos o recinto para perceber se as boas intenções passaram a atos.
O Rock in Rio foi o primeiro festival de música do mundo a conseguir a certificação pela norma ISO 20121, que surgiu em 2012, por altura dos Jogos Olímpicos de Londres, para normalizar procedimentos. «A norma implica ter processos para controlar os impactos ambientais e a gestão de resíduos. Tivemos de olhar para os nossos processos e criar dinâmicas para a gestão desses resíduos, por exemplo, envolvendo todos os stakeholders na política de sustentabilidade que definimos», explica Dora Palma, responsável da área de sustentabilidade.
A sustentabilidade é um tema sempre em aberto, diz a responsável da área de sustentabilidade do Rock in Rio. E quando se consegue muito, há sempre mais alguma coisa a melhorar e isso acontece há muito tempo, antes até de ser “o tema do dia”. «O Rock In Rio sempre teve uma visão de responsabilidade e qualidade na operação», explica. O festival surgiu, em 85, após uma época história conturbada, para mostrar que o Rio de Janeiro tinha o potencial de receber grandes eventos e dinamizar a economia. Em 2001, desenvolveu o projeto “Por um mundo melhor” e avançou nas causas sociais e nas práticas sustentáveis, com o objetivo de deixar um legado positivo, aproveitando o facto de que a música – e o festival em particular – são o uma plataforma de comunicação para passar mensagens transformadoras. Luís Soares, Head of Marketing, explicou-nos: «Não são os 4 dias de evento. São os 10 meses de comunicação até lá. A música e o artista são os ingredientes atrativos de uma receita maior, na qual os parceiros– como as marcas e os media - têm um papel muito importante. O Rock in Rio é um festival para todas as gerações, completamente transversal, que pode ajudar a transformar o mundo para melhor.»
Organizar um evento sustentável significa mais do que compensar a pegada carbónica, contribuindo para a plantação de mais de quatro milhões de árvores na Amazónia e em algumas zonas de Portugal. Significa até trabalhar nos aspetos em que se não tem controlo direto, como o comportamento do público. Contudo, é imperativo tentar.
«Todos temos a responsabilidade (nos eventos) de ser um bom exemplo e mostrar que é possível. Com honestidade e humildade, dizer que somos limitados por orçamentos e que ainda não estamos lá, porque as circunstâncias são mutáveis, mas que há sempre muito que também podemos melhorar»
Dora Palma, Responsável de Sustentabilidade no Rock in Rio
«A pegada carbónica do consumo de energia de todo o festival anda à volta de 1% a 2%. A pegada carbónica da deslocação das bandas, que envolve transportes aéreos e camiões, é de 14%. A deslocação do público representa entre 60 a 70%», explica Dora Palma.
Para diminuir isso, trabalham, com a Câmara Municipal de Lisboa e com os operadores de transporte, para impulsionar a utilização de transportes públicos. Com a Atlas Copco trabalham para reduzir e otimizar os geradores utilizados no festival e para utilizar o máximo de energia renovável diretamente da rede. Garantem o “Lixo Zero”. «Lixo é o que chamamos, tecnicamente, ao que não tem uso. O resíduo é algo que sai de um processo, mas que ainda pode ter utilização. Tudo o que geramos termina como resíduo», explica Dora. Alugam estruturas e lonas de tendas, doam as cenografias e relvas sintéticas a companhias de teatro, associações e escolas, encaminham resíduos para reciclagem em parceria com a Sociedade Ponto Verde, encaminham o lixo indiferenciado para a valorização energética com a Valorsul. Até as plantas são revitalizadas pelo Horto do Campo Grande e encaminhadas para outra utilização. Tudo o resto, reutilizam.
O que está bem feito, é para manter, mas há que melhorar e por isso estão a apostar na sensibilização. «No fim do dia, o público já não quer saber bem onde é que põe os resíduos. É no primeiro local que aparecer! Por isso estamos a ter cuidado com diversos aspetos. As caixas de pizza, por exemplo, já podem ser encaminhadas para reciclagem apesar da gordura. Antes isso era impossível, mas os processos vão melhorando e a Valorsul já aceita», diz Dora.
Mas… cumprem-se as intenções?
No recinto do Rock in Rio Lisboa foi possível testemunhar diversas ações implementadas. Além dos espaços da Sociedade Ponto Verde, que se propõe a esclarecer os visitantes sobre a melhor forma de reciclar, havia ecopontos espalhados em todo o recinto, esvaziados com frequência. Mochileiros percorreram também o espaço, para que os festivaleiros conseguissem reciclar com conveniência.
Utilizam-se copos reutilizáveis e os espaços que tinham bebidas em lata eram obrigados a servir a bebida nos copos, não permitindo que os clientes levem as latas. «Quando nós implementámos o copo reutilizável, notou-se uma diferença imensa. Praticamente deixou de haver lixo no chão, porque as pessoas levam o copo para casa», explica Dora. Diz ainda: «Nós escolhemos o copo em polipropileno, que é um copo que é rígido, que é lavável e é reciclável no fim de vida. Quem não o quer, pode descartá-lo no ecoponto amarelo e irá ser encaminhado para a reciclagem».
As mensagens de sensibilização são muitas: nas várias faces dos ecopontos, nas fardas dos mochileiros, no merchandising e até no interior das casas de banho! A sensibilização não fica por mãos alheias, porém nem sempre o festivaleiro absorve a informação, como se vê pelas beatas de cigarro cravejadas no chão, numa mostra pública da necessidade de maior civismo por parte de quem as descartou.
«A sustentabilidade não é mais um custo. É uma responsabilidade de todos. Basicamente, temos de sermos ativos, com uma noção de comunidade e não de individualismo»
Dora Palma, Responsável de Sustentabilidade no Rock in Rio
Na comemoração dos 20 anos do Rock in Rio há um espetáculo de luz e pirotecnia idealizado pelo atelier OCUBO, que recorre também à libertação de confettis. A pesquisa foi exaustiva e a escolha recaiu sobre um confetti que é feito de arroz, solúvel em água. Na altura da rega da relva, no final do dia, o confetti irá desaparecer e, caso algum caia ao rio, logo ali ao lado, transformar-se-á em alimento para os seres que lá habitam.
Para descobrir mais sobre a sustentabilidade no Rock in Rio Lisboa, visita o site oficial.