Em janeiro de 2024, o Grupo Jerónimo Martins convidou a imprensa para uma sessão de esclarecimento sobre temas relacionados com a sustentabilidade e com os princípios ESG (Environmental, Social and Corporate Governance).
O objetivo passa por refletir sobre algumas questões e desmistificar outras relacionadas com os grandes temas da atualidade. Posteriormente, colocámos algumas questões que tiveram resposta por parte de diversas fontes oficiais do Grupo Jerónimo Martins.
(Reportagem publicada na Packaging #45)
O que vos motivou a organizar as sessões de esclarecimento e quais as grandes dificuldades quando se aborda o tema, tendo em conta a vossa experiência?
Enquanto Grupo empresarial que interage directamente com o consumidor final, consideramos ter um papel importante na partilha de informação, para que os consumidores façam as suas escolhas de forma mais informada. Esse trabalho pode ser feito de várias formas, como por exemplo através de campanhas de sensibilização ou de sessões de esclarecimento por parte das nossas equipas que trabalham diariamente temas de sustentabilidade e que transmitem o seu conhecimento a uma grande variedade de stakeholders, como consumidores, fornecedores ou crianças e jovens nas escolas. É neste contexto que se inserem também os workshops com jornalistas.
A emergência climática levou a uma série de alterações, levando os operadores a adaptar os modelos de negócio e a integrar novas práticas, rumo a uma economia circular. Pode referir alguns exemplos que têm sido fulcrais nessa transformação para o grupo Jerónimo Martins?
No Grupo Jerónimo Martins temos já há quase 15 anos uma estratégia de Responsabilidade Corporativa que procura responder aos desafios identificados pelos nossos stakeholders, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pelas Nações Unidas. esta estratégia é transversal a todas as nossas companhias, nas nossas geografias, e é formada por cinco pilares de atuação: promover a saúde pela alimentação; respeitar o ambiente; comprar com responsabilidade; apoiar as comunidades envolventes e ser um empregador de referência.
Em cada um dos destes cinco pilares de Responsabilidade Corporativa, temos identificados objetivos concretos, com métricas bem definidas, que são públicos - e são na sua grande maioria verificados por uma entidade externa -, podem ser consultados no website corporativo a qualquer momento, e conduzem a nossa atuação em períodos maioritariamente de três anos.
Falando especificamente de embalagem: quando adoptaram as práticas de eco design e que alterações fizeram? Quais as preocupações em termos de materiais e de produção?
Foi no âmbito desta estratégia que, em 2011, lançámos o programa de ecodesign de embalagens, em parceria com os fornecedores, de forma a melhorarmos o perfil de ecoeficiência das embalagens de Marca Própria das nossas diversas insígnias. O objetivo é reduzir o impacto ambiental e otimizar os custos de produção, transporte e gestão de resíduos. Entre 2011 e 2022 poupámos cerca de 36 247 toneladas de materiais e evitámos a emissão de cerca de 5 712 toneladas de dióxido de carbono (em transportes), através da melhoria da ecoeficiência das embalagens em mais de 1 156 referências de Marca Própria. Aliás, estamos, de momento, a consolidar a informação de 2023, que será divulgada em março na apresentação de resultados anuais do Grupo.
Que desafios encontraram?
O facto de operarmos no sector alimentar traz desafios acrescidos, uma vez que têm de ser asseguradas as condições em termos de segurança alimentar e de combate ao desperdício alimentar. Temos de avaliar sempre os materiais de embalagem e, na tomada de decisões, analisamos diversas características, como a sua eficiência, eficácia, versatilidade, reciclabilidade ou conveniência. Desta análise resultam por vezes decisões que contrariam o senso comum, como por exemplo a nossa decisão de adaptar a embalagem de azeite Pingo Doce de vidro para plástico. Com esta adaptação, a embalagem reduziu significativamente de peso, em 89%, uma poupança de 1600 toneladas por ano, contribuindo também para a redução das emissões de CO2 em 44 toneladas por ano, devido à redução do número de transportes. Pela resistência do material, conseguiu-se também reduzir em 50% o desperdício de azeite.
A necessidade de incentivar a alteração de comportamentos para que as novas soluções e as expetativas dos consumidores estejam alinhadas é outro desafio que procuramos resolver através de partilha de informação e campanhas de sensibilização para que os consumidores façam as suas escolhas de forma mais informada. A este propósito, convidamos os leitores da revista Packaging a visitar o Be The Story, um site focado em temas de sustentabilidade.
As vossas escolhas ou alterações foram bem-recebidas pelo consumidor?
O consumidor está cada vez mais atento e sem dúvida que valoriza ver a sua preocupação refletida nos comportamentos das empresas.
Quais as principais preocupações ou alterações que serão consequência da nova Diretiva de Embalagens e Resíduos de Embalagens (PPWD)?
É importante que a Packaging and Packaging Waste Directive (PPWD) assegure que as regras sejam aplicadas de forma uniforme nos Estados-Membro. É também importante que, na definição das metas e objetivos, sejam considerados dados científicos, mas também a sua aplicabilidade prática. Isso requer planeamento, testes dos diversos operadores e, sobretudo, ter sempre em vista a experiência de compra dos consumidores. A conveniência destas soluções para o consumidor acabará invariavelmente por ditar a sua viabilidade e até mesmo a sua rentabilidade.
Dois exemplos: alocar uma área com uma dimensão previamente definida de venda para soluções de refill, será vantajoso se houver efetivamente uma procura dessas soluções proporcional à área que lhes é alocada, sob pena de até se gerar desperdício; e o uso de embalagens reutilizáveis implica, por exemplo, o transporte dessas embalagens para a entidade que as irá processar, o que tem associada uma pegada carbónica. Sendo claras as vantagens da reutilização de embalagens, ainda assim, para esta iniciativa ser eficiente, existem um conjunto de fatores que irão influenciar os resultados. A densidade populacional, a distância dos operadores de distribuição ao local de higienização das embalagens, os volumes de consumo e a adesão dos consumidores podem resultar em maiores - caso estas condições não se verifiquem - ou menores impactos ambientais.
Por fim, consideramos que o processo de rastreabilidade das embalagens deverá ser assente em processos rigorosos e ser o mais ágil possível, mas com prazos exequíveis para os diferentes setores se poderem adaptar para a entrada em vigor de novos requisitos legais, dando tempo e condições para que, primeiro, sejam escoadas as embalagens em uso, evitando que se tornem desperdício.
Que outras iniciativas podemos esperar num futuro próximo?
No que diz respeito ao contributo para o esclarecimento sobre temas de sustentabilidade, continuaremos a nossa dinâmica e as nossas parcerias para chegar aos nossos diversos stakeholders. Quanto ao ecodesign de embalagens, continuaremos o trabalho em colaboração com os nossos fornecedores no desenvolvimento de produtos e embalagens com o objetivo de reduzir a quantidade de materiais utilizados, promover a utilização de materiais reciclados e assegurar a reciclabilidade no nosso sortido de Marca Própria e perecíveis.
O Grupo Jerónimo Martins está sediado em Portugal e tem, na distribuição alimentar, a sua principal atividade, com mais de 230 anos de experiência. O Pingo Doce, no segmento dos supermercados e o Recheio no segmento de cash & carry são as principais insígnias. Desenvolve ainda um negócio de produção agroalimentar para garantir o acesso direto a fontes de abastecimento de produtos estratégicos. O Grupo detém ainda a cadeia polaca de lojas alimentares Biedronka e a rede de lojas de beleza Hebe. Na Colômbia, a Jerónimo Martins detém a cadeia de lojas de proximidade Ara.