Investigadores do CeNTI (Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes), em Vila Nova de Famalicão, estão a desenvolver formas avançadas de bio sílica extraída de resíduos de biomassa, dotando-a de novas propriedades funcionais, como resistência ao fogo, repelência à água e proteção antimicrobiana.

A investigação decorre num laboratório que é, atualmente, o único em Portugal com capacidade de extração e modificação de bio sílica à escala piloto.

A bio sílica, obtida a partir de resíduos agroindustriais, surge como alternativa à sílica sintética, cuja produção convencional envolve consumo energético elevado e utilização de químicos agressivos. Embora este recurso de base biológica já seja aplicado em vários produtos industriais, a equipa portuguesa está a testar processos que lhe conferem novas funcionalidades, ampliando o seu potencial de utilização na indústria.

O CeNTI diferencia-se por não apenas extrair a sílica de resíduos como casca e palha de arroz, mas também por realizar a modificação funcional das partículas, incorporando agentes que lhes conferem propriedades adicionais. Estas partículas podem depois ser aplicadas diretamente em produtos ou funcionar como aditivos em novas formulações de polímeros, espumas ou revestimentos.

“Potencialmente, a bio sílica pode ser utilizada em qualquer setor onde já se utilize sílica sintética. Sabemos, por exemplo, que na Europa já é utilizada na produção de pneus. Por isso, e dado que se apresenta como um excelente substituto da sílica sintética, a bio sílica modificada pode ser usada em qualquer setor que tenha interesse nas propriedades que já testámos e conseguimos incorporar, ou mesmo outras que podemos avaliar a pedido das empresas”, diz Mariana Cardoso, investigadora do CeNTI.

Além da casca de arroz, os investigadores estão a testar outras fontes naturais ricas em silicatos: “Podem ser utilizados quaisquer resíduos agroindustriais e/ou florestais que sejam ricos em silicatos. No CeNTI, já testámos diferentes tipos de resíduos, sendo que a casca de arroz e a palha de arroz foram, até ao momento, os resíduos que permitiram obter maior rendimento de produção. Também podemos testar cinzas de caldeiras de biomassa para avaliar o seu potencial de extração”.

As empresas interessadas podem recorrer ao CeNTI para testar e validar a incorporação desta bio sílica funcional em produtos industriais, através do laboratório equipado com tecnologia específica para extração, modificação e caracterização química, morfológica e funcional das partículas.

O projeto, em curso desde janeiro de 2024 e com conclusão prevista para dezembro de 2026, pretende converter biorresíduos em produtos de base biológica com potencial de aplicação industrial, promover conhecimento em bioeconomia e criar um ecossistema de colaboração entre agentes da cadeia de valor, incluindo produtores agroindustriais.

Fundado em 2006, o CeNTI resulta de uma parceria entre as universidades de Aveiro, Minho e Porto, e entidades tecnológicas como o CITEVE, CTIC, CEIIA e Bikinnov. Conta com mais de 160 investigadores e experiência consolidada em mais de 200 projetos científicos, incluindo dezenas de patentes ativas. O centro desenvolve soluções com base em nanotecnologia, materiais avançados e sistemas inteligentes, mantendo uma forte ligação ao tecido empresarial.